quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A avó linda da Marcela



        A página abriu na foto de uma senhorinha, não, uma senhorinha não:  uma senhorona! Linda, linda, sorridente que só! Aquela não era apenas uma senhorona de primeira, era, antes de tudo, a avó, a linda avó de Marcela! Li o texto abaixo da foto e descobri que partira. Partira... para onde? Para onde vão as avós quando morrem?
       Então, no meu cerebrozinho maduro, mil e uma coisas e imagens surgiram. Lembrei das minhas próprias avós: a paterna não se fez marcante. Recebia-nos ocasionalmente em sua casa com aquele seu jeito quase escandaloso de falar e de se vangloriar. Era apenas mais uma pessoa conhecida, pouco conhecida, melhor dizendo (para mim), nada conhecida. Mas a avozinha materna... essa era tudo de bom!
       Embora, no começo de minha infância, não morássemos tão perto, ela nos visitava em temporadas de dois, três meses, regadas a muita história (que nunca ouvira ou ouvi até hoje alguém contar), bonecas de pano que fazia numa tarde, bolinhos de chuva mesmo no calor infernal das férias de janeiro, pele macia com cheiro de macela e paina (uma plantinha que recheia travesseiros), hálito fresco pelas folhas de hortelã que mastigava  - ou de losna para os enjôos. E medo, muito medo. Minha avó era muito medrosinha, daí que todas as noites eu tinha que acompanhá-la em suas orações à frente de cada janela, basculante e porta da casa: modo de proteção contra possíveis invasores noturnos.
       Legal eram as missas dos domingos! Quando a missa acabava íamos de imagem em imagem para que ela rogasse proteção para todos nós e ela levava um dinheirinho para pôr aos pés dos santinhos. Ela fazia tais doações com muita propriedade: se queria dar vinte centavos e só tinha uma moeda de um real (digamos) ela pegava os oitenta centavos de troco! Claro, só assim teria dinheiro para distribuir com todos os santinhos!
       Bem, mas essa avozinha, tinha uma voz de menina, doce e carinhosa. Sempre fora esguia, mas a idade foi-lhe curvando e secando, tornando-a um arbusto fininho e frágil. Usava um coque enrodilhado na nuca e a sua única vaidade era manter os cabelinhos finos e macios, e quase todo branquinho, bem penteadinhos. Sua pele foi secando e tornando-se a cada dia mais delicada: se a pegássemos com um pouquinho mais de pressão nos dedos, sua pele rompia-se como um papel de seda desses que se faz pipa. Hoje penso que era um sinal divino que não entendemos: ela ficava cada dia mais levinha porque estava perto de partir e talvez quisesse ir flanando. Quem sabe? Quem sabe criava coragem e resolvia se aventurar na hora da transformação? Não sei, não sei sequer se saberei um dia.
       Mas... para onde vão as avós quando morrem?
     Quando a minha neta, aos três, quatro anos perguntou-me sobre onde estava a minha mãe (que ela aprendera a chamar de bisavó), parei um pouquinho, pensei e respondi:" no meu coração, mas pode estar no seu também! É só fechar os olhinhos e lembrar, e sorrir e conversar e suspirar de saudade! Aí vem o cheiro. E, aí, parece que não foi embora: o cheiro todo traz ela de volta!".
       A minha, como eu já disse à Marcela, tinha cheiro de paina de travesseiro.Minhas filhas dizem que o cheiro da avó delas (minha mãe) era do leite de colônia (o cor de rosa, que só tinha ele até há doze anos atrás). E fico aqui pensando... com que cheiro serei lembrada pelos meus netos?

 Cléa Siqueira



5 comentários:

  1. Que lindo Cléa!!! Suas palavras bem escritas e bem colocadas me enchem de prazer no momento em que vou lendo cada uma delas.
    Você fez mais feliz o meu dia!!!
    Essa minha vovó era paterna e tínhamos muita afinidade, ela era um doce com todos os seus netos, bisnetos e até 1 tataraneto já de 9 anos. Mas com meus avós maternos a convivência era muito maior. O amor era o mesmo...enorme!!!
    Com certeza você será lembrada pelos seus netos com um cheiro delicado, meigo e adocicado. Essa é a impressão que tenho de você!
    Beijo grande e ótimo fim de semana,
    Marcela.

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  2. Olá,boa tarde!!
    Vc prefere ser chamada de Dodoca ou Cléa?!rs
    Adorei essa postagem e fiquei pensando nas minhas avós...
    A paterna,nunca tive muita proximidade com ela,realmente não me lembro o cheiro dela.
    Mas a materna,foi uma avó carinhosa,dedicada e com cheirinho de alfazema.(Ela sempre usava uma colônia dessa fragrância!)
    E sempre estava muito cheirosinha!!
    Tenho ótimas lembranças dela e sinto uma saudade imensa.Ela foi embora pro andar de cima há 14 anos e 10 meses...

    **Ah,que bom que as coisas estão se normalizando no seu Blog.
    No meu,continua uma confusão!!Às vezes desaparece todos os seguidores!rs
    Mas uma hora terá solução!
    Bjs!

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  3. Que lindas recordações!!!!!!!!! Lembrar da minha avó paterna lembra cheirinho de broas de milho, feitas no forno do fogão a lenha! A minha avó materna me faz lembrar o inverno: ela tinha mãos muito frias, mesmo no verão!!!!!!!!!!
    Pior é que ainda não tenho netos e... dói-me pensar que não terei cheirinho especial prá ninguém.,... aahahahaha.... Terei que adotar alguns netos...

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  4. Oi, meninas!!!
    se pensaram que eu havia desistido... enganaram-se!!! rssssssssssssss

    MARCELITA (perdoe-me a confiança),
    Que bom que vc gostou do texto que a sua vovó inspirou (não disse que era caso de um bom texto?)!
    Obrigada pelo modo como me "vê", dando-me cheiros doces e delicados (mas isto deve ser coisa de quem mexe com delícias de sabores e formas).
    Bjsssssssssssss, quérida!

    CLAU,
    querida, estou com saudades!
    Bom, Dodoca era o apelido da minha mãe em criança e quando criei o blog aproveitei para homenageá-la. Mas, confesso, quando me chamam de Dodoca parece que não sou eu (e não sou mesmo, né?).
    Daí que, sem nem pensar no assunto, meio que instintivamente, comecei a assinar as postagens. Veja você como são as coisas: depois de 57 anos eu iria adaptar-me em ser chamada de outro nome que não Clea?!! rssssssssssss
    Bjssssssssss, quérida!


    LECIIII!!!
    As recordações são mais que lindas e tenho um milhão de pencas delas! Como vc tb, tenho certeza, principalmente depois que li TODO o seu blog!
    Quanto aos netinhos que ainda não vieram... virão! E vão torná-la mais animada com a vida do que já é (pelo menos é o que "aprendi" de vc do que li)! Adotar netinhos? É uma idéia, também, mas o seu cheirinho especial já está na alma de muitiiiiitaaaaa gente, pode acreditar!
    Bjssssss, quérida!


    PARA AS TRÊS AMIGAS VIRTUAIS ACIMA E A QUEM INTERESSAR POSSA:
    Fiquei muito feliz em ter sido um meio de resgatar boas recordações de vocês. E de ter provado mais uma vez a minha tese: o cheiro de um amor se carrega para sempre.
    Obrigada a vcs pelos depoimentos de amor e saudade, muitos beijossssssssssssss procês!!

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  5. Oie!!
    Saudades de você também.(Vc tá muito sumida)!rsrs
    Então à partir de hoje,a chamarei pelo seu nome!!
    Tá bom Cléa?!!
    Que legal,vc tem a idade da minha mãe!
    Bjs!!

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Muito obrigada por participar do meu blog com o seu comentário.
Bjssssssssssssssssssssssss