segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Eu queria era amar!




        Mas sequer desconfiava do que se tratava! Alguém com dez, onze anos sabe lá o que é isto? Eu, com certeza, não sabia. Imaginava que amar era namorar, que namorar era andar de mão dada, que andar de mão dada deveria ser muito bom (afinal, as caras dos casais que via de mãos dadas, eram muito risonhas). Deveria ser bom. Então, eu queria amar!
      Penso que comecei com isso quando a minha irmã, que era quase dois anos mais velha do que eu, apareceu suspirosa. Olhar divagante a procurar algo que eu não suspeitava o que fosse. O que era? O que tinha a minha irmã, minha parceira de estrepulia? O que a fazia querer ir tantas vezes ao portão? O que tanto tinha para ver na rua transversal à nossa? Ah, mas ela me contou logo, logo: o motivo era um garoto bonito e alourado, o segundo de cinco irmãos, que morava nessa tal rua que ela tanto passara a vigiar! Fiquei... roxinha de inveja: como??? Ela já amava? Já pensava em namorar? E eu? Como é que ficava nessa história? Tinha que amar também, não podia ficar sozinha nessa! Se nem quando ela resolveu morrer tomando um copo de "Flit" (um inseticida que se punha em uma bomba e danava-se a esparramar em borrifos o tal matador pela casa: uma praga sufocante - aliás, ainda não sei qual a praga maior: os mosquitos ou o "Flit"!) deixou-me de fora, convidou-me para morrer junto!
        Tá bom gente, eu explico: essa idéia de morte em conjunto foi após uma arte, que já não lembro o que fizemos, e que resultou numa sova da mamãe e num belo de um castigo, daí que ela quis morrer de tristeza!  E me convidou para morrer junto. E eu topei! E já que a tristeza sozinha não matava, pelo menos não matou a gente (a tristeza não durava o suficiente para matar), então surgiu a idéia do "Flit", que foi abortada porque o cheiro era "de matar", resolvemos deixar pra morrer outro dia!
       Pois é, se eu tinha compartilhado esse momento tão doloroso e difícil (rsssssssssssss), porque, agora que a coisa parecia ser bem legal, eu ficaria de fora? De jeito nenhum! Então resolvi que iria me apaixonar também! Mas... por quem? Ora, pelo irmão do alourado, o morenaço! Os dois eram exemplares da beleza masculina adolescente! Gostosinhos, gostosinhos, lindinhos que só! E passamos a suspirar juntas. Confesso que ela mais, eu só fazia de conta (porque queria ser igual a ela). E, por causa desses amores, os dias de domingo à tardinha eram de uma expectativa só: era o dia que eles costumavam dar bobeira pela esquina da nossa rua! Ficávamos no portão espiando para a esquina do lado direito. Às vezes inventávamos um pique bandeira, um jogo de queimado com as coleguinhas (que nem suspeitavam), um corrupio, uma amarelinha, ah, qualquer coisa que nos deixasse mais tempo na rua.
      Um dia chegamos ao portão quando já começava a escurecer. Os padrinhos dessa minha irmã tinham chegado à tarde para visitar-nos e demoramos a ter uma folguinha para aparecer na rua: já não dava para brincar com ninguém, porque todos já haviam entrado para suas casas. Foi, então, que a belezura da minha irmã teve uma idéia brilhante, sensacional, espetacular! Disse-me ela num sussurro animadíssimo:
      -   A gente podia desenhar um coração lá, naquele poste da esquina, lá onde os garotos passam, e escrever EU TE AMO com o nome deles, que tal?
       -   Desenhar com quê? perguntei abestada.
     - Com giz, ora, tem giz lá na varanda dos fundos... - saímos correndo, mas entramos pelo portão vagarosamente, passamos pela calçada lateral da casa, agachadinhas (a janela estava aberta e poderíamos ser vistas) e, lá atrás da casa, pegamos o giz e um pano umedecido, desses de limpeza. Fizemos o percurso de volta como duas gatas silenciosas. Que craques!
       Saímos à rua e corremos até a esquina, que só não estava um breu porque tinha o tal poste com uma lampadinha acesa. Pegamos nossos pedaços de giz e nos esmeramos! Com pressa, mas com capricho. E com medo, o coração batendo na goela: se nos pegam, principalmente papai, o que seria de nós, meninas foguentas! Voltamos correndo para casa! Entramos esbaforidas, trêmulas, boca seca, coração pipocando. Guardamos o material incriminador... e tentamos voltar calmamente ao portão: quem sabe eles não apareciam e liam nossas mensagens? Tá bom, não havíamos posto o nosso nome... mas...
       -  Cléa, a letra!!! Alguém pode reconhecer a nossa letra, lá no poste! Se for mamãe ou papai então, estamos perdidas!
       Voltamos aos fundos da casa correndo, pegamos o pano úmido e molhamos mais um pouco, tudo com pressa, com muita pressa. Continuamos a corrida até o poste e esfregamos bem esfregadinho, apagando tudo, tudo, eliminando todas as pistas. Estávamos livres, livres de sermos descobertas e de enfrentarmos as feras.
      O tempo passa, sempre passa, ainda bem. E cheguei aos quinze, dezesseis anos. Já não pensava no morenaço (embora ele tivesse se tornado um Apolo!) e minha irmã já namorava de verdade e não era o loiraço (que também estava de desencaminhar qualquer donzela!). Um dia, já não lembro sobre o quê, conversávamos com algumas amigas da vizinhança lá na varanda de casa, quando os pedaços de mau caminho passaram. Uma delas falou:
       - Que rapazes bonitos, hem? Vocês conhecem?
       Antes que respondêssemos, uma outra amiga respondeu:
       - Conhecemos, mas esquece! São duas toupeiras!
       Eu e minha irmã nos olhamos sem entender nada, a amiga continuou:
      - Imagina, tão bonitos e nem sabem escrever o nome! São dois analfabetos!
     Fiz força pra não olhar minha irmã novamente. Ela fez o mesmo. Mais tarde, quando as amigas foram embora, caímos na risada! Tanta preocupação anos atrás para que lessem nossas declarações de amor... e eles, simplesmente, nunca as teriam lido porque... não sabiam ler!!!


       Cléa Siqueira

22 comentários:

  1. Cléa querida, graças a Deus estou um pouco melhor, indo visitar as amigas devagarinho pra não forçar a coluna que me judiou muito esse final de semana. Pra variar mais um post gostoso e divertido de se ler. Sorte a de voces que não casaram com as toupeiras kkkk Bem dizia meu pai, beleza não se põe a mesa kkkkk. Adorei. ótima semana pra ti..bjocas

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    1. Oi, querida, que bom que está melhorzinha!
      Obrigada pelos elogios à postagem. Eles eram toupeirinhas, mas eram boas almas, até onde soube deles, e formaram lembranças boas e divertidas nas nossas histórias de vida. Deus os abençoe onde quer que estejam.
      Ótima semana procê tb.
      Bjssssssssssss, quérida!

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  2. KKKK, meninas arteiras.Essas paixonites de infância são gosotosas memórias como esta que vc nos brinda, Cléa.
    Adorei saber das tuas peraltices.Ainda bem que nem o pacto de morte e nem o da paquera deram certo na ocasião.
    Vc pode escrever como o Pedro Bloch em: criança faz(diz) cada uma!
    Bjkas,
    Calu

    PS: estou em falta contigo no desafio, mas confesso que estou sem tempo.Fevereiro tá lotado: chegada de Valentina(neta).Chegada da filha e do genro que moram fora.Cuidados semanais com o Miguel(neto), ufa!
    Me desculpa a falta, tá?
    Bjkas.

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    1. Oi, Calusinha querida,
      O pior é que eu era frouxa que só! Na verdade, a minha líder é que era porreta: eu só seguia, me fiando nela, claro!
      Não está nada em falta, esquece isso! O que me importa é o nosso troca-troca, ok?
      Ai, meu neto tb se chama Miguel! E tb tenho uma neta, só que o nome é Esther (são lindos, não precisa espalhar! rsssssssssss)
      Bjssssssssssssssssss neles e em vc, né , quérida?!

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  3. Oi Cléa!
    Adorei sua narrativa sobre o loiraço e o morenaço!
    E ri muito dessa história da morte em conjunto!rsrs
    Você e seus contos!!
    Bjs :)
    Boa semana!

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    1. Ai, Clau, o morenaço e o loiraço eram de doer "as vista"!!!rsssssss
      Eu tenho muitas histórias incríveis com minhas irmãs, com esta então! Ela é (até hoje!) cheinha de idéias geniais!
      Contar sobre isto também me diverte muito!
      Bjssssssss, quérida e boa semana tb!

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  4. Cléa, bom chegar e me deparar com uma história tão boa, bem contada, e que faz parte de muitas vidas, já que as estrepulias eram tão simples, puras, nada de investidas óbvias, como hoje. rsrs
    Bom conhecer você!

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    1. Obrigada, Lucia,
      bom conhecer vc também!
      Bjsssssssssss, quérida!

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  5. Cléa minha doce arteira arrasadora de corações kkkkk
    Vim agradecer seus conselhos e dizer que vc está corretíssima, e repleta de razão, se tem uma coisa que não faço é alongamento, nem antes, nem durante e nem depois de ficar horas em frente ao pc. Levei bronca do médico por isso hehehe. E ó, vc tem razão também quanto ao remédio, estou tomando Tandrilax que o médico receitou mas em contrapartida meu estomago está denotado amiga!!! Obrigada viu? Vou começar a deixar a preguiça de lado e seguir seu conselho que foi muito proveitoso. Bjos querida

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    1. Eu só arrasava corações de giz desenhados no poste! rssssssss
      Pois é, Josy, não sou a rainha do movimento, estou bem longe disso, mas procuro, de hora em hora (na costura, no pc, na cozinha, etc), dar uma paradinha e esticar os ossos. Tem uns movimentos simples, vc repete cinco ou seis vezes por vez que levantar ou trocar a atividade diária. Sentirá mais conforto, garanto. Procure no youtube a reapresentação de um programa do Sem Censura que tinha uma turma muito legal que ensinou uns "truques" bem fáceis de decorar e aplicar.
      Melhoras mesmo, se cuida, garota!
      Bjssssssssssssssss, quérida!

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  6. Gostei de seus 'escritos'


    abraço
    Daniel Deywes
    http://feitonahora.blogspot.com

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    1. Obrigada, Daniel, pela visita e por ter gostado dos meus escritos!
      Já visitei um de seus blogs, bem rapido (vou voltar com mais calma) e confesso que fiquei encantada!
      Bjsssssssssssssssss

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  7. Cléa querida,adoro demais da conta as suas histórias,me divirto até !!!
    Menina,por conta disso e do seu carinho comigo,passa lá no blog,que tem selinho procê.
    bjs
    Patricia Petro

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    1. Obrigada, Patrícia, que bom que gosta das minhas histórias e ri com elas!
      Bom, o problema é... que não sei usar, não sei transportar, não sei o significado, ah eu não sei nada dessa história de selinho!!! rssssssss Pode rir tb, eu deixo!
      Primeiro eu quero entender essa história: quem criou essa coisa de selinho e qual é a função, porque já li comentários entre as blogueiras, mas, confesso, senti-me uma cega em pleno tiroteio!!!
      Tenho que ter aulas primeiro, ok?
      Bjsss, quérida e obrigada pelo selinho, mesmo assim. Vou aprender para poder trazê-lo para cá!

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  8. Oi Cléa ,é a Vi, você e sua irmã eram arteiras ein?
    Mas o que valeu é o coração na boca, é essa adrenalina que marca um momento em nossa vida.
    Mas a gente nessa idade sempre nutre umas paixões platônicas, o pior é quando nos apaixonamos por "cabos de vassouras" e quando crescemos ficamos com vergonha do nosso passado,kkkk.
    Muitos beijos,Vi

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    1. Cabos de vassouras???? Xiiii! Fiquei curiooooosa demais! Vc vai me contar esse bafo, ah, vai, por favor, pode ser em capítulos, mas conta, vai!!! rsssssssssss
      Mas tenho um esclarecimento: a cabeça das aventuras era ela, eu... seguia, feliz da vida e, às vezes, nem seguia, só aplaudia e morria de inveja da coragem da danada!
      E vcs, quem é que dava a idéia e quem é que seguia?
      Bjsssssssssss, quérida e bjssssssssssss na Pepa!

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  9. KKKKKKKKKKKKKKKK
    Você disse que eu podia rir !!!
    Vou te explicar porque sou fofa tá?!
    É o seguinte: O selinho é uma tradição entre as blogueiras,é como um mimo,um presentinho.
    Existem vários tipos de selinhos,com vários dizeres e objetivos.
    Algumas pessoas criam selinhos e oferecem prazamigas,outras só repassam o que receberam.
    Normalmente esses selinhos tem algumas regrinhas,que quando recebemos devemos seguir.
    Mas como sou uma rebelde sem causa,sem calça e tudo mais,nem sempre sigo as regrinhas a regra.Quer dizer,normalmente esses selinhos devem ser passados pra um determinado número de pessoas,mas como sou muito dadivosa,muitas vezes repasso pra muito mais amigas.rsrsrsrrs
    No nosso caso,eu ganhei o selinho de uma amiga blogueira e é um selinho dedicado as blogueiras que estão começando,pois é indicado para blogs com menos de 200 seguidores.Então é assim um tipo de incentivo e propaganda no mundo bloguítico.
    O significado desse selinho em especial,você deve ter visto lá no blog.
    Pronto,então é só isso tudo.
    Fácil,né?!
    hehehehehehe
    As regrinhas,também estão lá no post e para pegar o selinho é só clicar com o botão da direita do mouse e copiar e depois colar no seu post.
    Querida,isso é uma brincadeira entre as blogueiras e ninguém é obrigada a fazer,faz quem quer.
    Minha opiniâo: adoro receber selinhos,pra mim significa que as pessoas e amigas estão gostando do blog e que estou fazendo novas amigas.
    Pelo lado da etiqueta,eu acho bacana agradecer e se puder repassar.
    Isso aqui tá virando uma bíblia,mas é que gosto de falar um tantinho,só um bocadinho mesmo!
    hahahahaha
    Qualquer dúvida,pergunte ok?!
    bjs
    Patricia Petro

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    1. Mas com uma professora assim, que fala só um tantinho assim, e explica tudo direitim, não tem como não aprender!
      Quer dizer, vou ver se aprendi quando for seguir o passo a passo!!! rsssssssssssssss
      E claro que, qq dúvida, encho o seu saco!!! rsssss
      Bjsssssssssssssss, quérida!

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  10. Suas histórias são uma delícia de serem lidas. Dá uma vontade de saber o final logo...
    Um bjão

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    1. Maristela, querida,
      Ganhei a noite ao ler este seu comentário: tô prosa que só!
      Obrigada, muito obrigada, desse jeito eu nem quero parar de escrever! rssssssssss
      Bjssssssssssss, quérida!

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  11. ... é sempre bom lembrar de coisas boas, né querida mãe?O tempo da ingenuidade...
    Te amo.Beijos.

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  12. Se é bom? É excelente!!!
    Tb te amo demais!
    Bjsssssssssssss, quérida!

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Muito obrigada por participar do meu blog com o seu comentário.
Bjssssssssssssssssssssssss