terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Só batendo perninha, né?!!!



       Há muitos e muitos anos atrás, lá nos recônditos da aurora, no tempo em que os bichos falavam, êpa! Não é bem assim, não!!! Segurem-me que viajei demais!!! rsssssssss
       Vamos recomeçar :  há alguns anos atrás (na verdade são muitos mesmo, possivelmente uns quinze... é, são muitos anos,  uma adolescência!!!), morava eu em uma casa que ficava quase em frente a um botequim. Bar, boteco, birosca, uma coisa qualquer dessas que vende boa parte dos vícios (cachaça, cerveja, conhaque, vinho, refrigerante, cigarro, etc) e tapeia com uma saca de batatas ou cebolas exposta na entrada do estabelecimento. E eu, praticante contumaz que era, na ocasião, do uso do cigarrinho, freqüentava o local, claro, regularmente!
        Era um comércio quase familiar, ou seja, quase toda a mesma família trabalhava ali, se revezando. A excessão, me parecia, não posso afirmar categoricamente, era um homem que devia ser uns dez anos mais velho do que eu (portanto se eu tinha...ahn... noves fora... ahn, ele devia ter, ahn... ah, vamos deixar essa parte pra mais tarde!). Bom, esse homem, extremamente educado e atencioso, não tinha as pernas, é, não tinha! Andava com as mãos, que protegia com uma espécie de almofadinha, e, quando parava - no ponto de ônibus, por exemplo - era sentado direto no chão. A bunda apenas protegida pela calça jeans que cortavam nas pernas e costuravam. Desconfortável e comovente vê-lo nessas horas. Mas, quando estava no estabelecimento, sentava num banco mais alto e o balcão escondia-lhe a deficiência. 
        Com o tempo e com a freqüencia que o via, já me sentia cheia de amizade por ele, parecia até meu colega de infância! Daí que chegou um tempo, não sei mais qual, que o meu coleguinha sumiu!  Onde estaria? Será que havia lhe acontecido algo? Não, a cara da parentada continuava festiva e serena, daí que ele deveria estar de férias, pensei.
       Belo dia, entro no bar e... quem está lá???? Isto, isto, isto! Coleguinha! Abro meu maior e mais lindo sorriso:
       - Não tenho lhe visto, tá sumido!!!
       - Ah, sabe como é, aproveitei uns dias e fui pro Espírito Santo ver os parentes.
       - Ah, é? Quer dizer que ficou esse tempo todo só batendo perninha, né?!
       Ele, como o gentil coleguinha que lhes descrevi, fez que não notou a grande merda que eu (querendo parecer íntima) havia dito, sorriu meio de lado e respondeu :
       - A gente tem que aproveitar o tempo, né?
      Consegui enviar-lhe um sorriso amarelíssimo, peguei o maço de cigarros de sua mão, dei "tchau" e zarpei como se pisasse em brasas! Só não corri dali, porque... nem sei porque não corri, vai ver que foi o peso da vergonha que não me deu agilidade para a fuga!
       Entrei em casa depressa e dei de cara com a minha mãe mexendo nas suas plantinhas.
      - Mãe, acredita que eu disse pro meu colega perneta que ele tava batendo perninha?!
     

      Cléa Siqueira

P.S.: Mais tarde descobri que o meu coleguinha havia perdido as pernas devido ao tabagismo. Embora este não tenha sido o motivo principal que me levou a parar de fumar, contribuiu bastante.

16 comentários:

  1. Adoro seus causos....parece que estou vendo minha Mama contar os seus...obrigado por sempre estar por perto.

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    1. Ah, Cucla, é uma honra estar ao lado de sua alma tão generosa!
      Eu e Gostosura somos da mesma época (ano e mês: ela do dia 5 e eu do dia 21), daí que vivemos muitas coisas semelhantes, fomos criadas de maneira parecida, com família que pegava no pé, que vigiava. Nossas experiências, por conta disso, tornam-se parecidas. Os causos são um exemplo disto! E é outra honra lembrar a vc, através dos meus escritos, desta mulher tão amada por tantos e que não conheci, mas aprendi a gostar de verdade.
      Bjsssssssss, quérida, Deus a abençoa!

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  2. Cléa querida, faço das minhas palavras, as palavras da Cucla,estava eu lendo seu relato e me lembrando de Welze, vc nos faz gargalhar como ela fazia. Ri muito quando vc disse: - Ah é? quer dizer que vc ficou esse tempo todo batendo perninha né? Mas gargalhei mesmo quando vc disse: ...fez que não notou a grande merda que eu havia dito. Ai ai Cleá só vc mesmo, gosto muito de vir aqui, adoro seus causos, só não gostei do final (hehe, ainda não larguei o vício) que presta atenção!!! AFFFFFFF
    Bjocas querida

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    1. Mas vai conseguir Josy,largar o vício, não desista de vc, que eu não desisto!
      Sinto-me honrada em lembrar a vcs de pessoa tão especial como a Gostosura e que ela era divertida,isso era, não há dúvida.
      Obrigada, Josy por este olhar gentil e generoso sobre minhas criações, artista (rssssssss) sabe como é, gosta de platéia de elite, como vc!
      Bjsssssssssssss, quérida, Deus a abençoa!

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  3. Oi Cléa!
    Concordo com a Cucla e a Josy.
    Sempre que leio seus 'causos',inevitavelmente lembro da querida Welze,contando os seus!
    É bom demais,e rio sem parar.
    A-do-ro você e suas postagens :)
    Bjs!

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    1. Ah, Clau querida, eu tb a-do-ro você!
      E fazê-la lembrar, com meus escritos, da Gostosura, é uma honra! De fato ela tinha um humor que "ara, ara, ara"!!!
      Bjsssssssssss, quérida, Deus a abençoa!

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  4. Não há aquele ou aquela que não tenha dado uma mancada dessas, Cléa. Que atire a primeira pedra se for ao contrário do que eu disse; pera lá, atira não!!!Afinal, mancadas são(muitas das vezes) pura espontaneidade solta (olha o pleonasmo, rsrsrsrs).
    Pelo menos, a desdita do coleguinha serviu de alerta pra vc.O fumo é uma praga( como outras mais, por aí).
    Bjos Dodoca,
    Calu

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    1. É, fomos dois os constrangidos com a minha espontaneidade, Calu! Com a diferença que ele lidou com maestria e eu me apatetei! rsssssssss
      É, o vício é muito triste e sair dele não é nada fácil, por isto muitos não conseguem, embora tentem exaustivamente.
      Há que se ter piedade com as fraquezas humanas: a maioria de nós embarca nessa destruição sem se dar conta, por ingenuidade. É uma praga... mas eu adorava!!! Confesso, mea culpa!
      Bjsssssssssssss, quérida, Deus a abençoa!

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  5. rssrs, ai menina, gafe é coisa que a gente paga uma vez na vida pelo menos, e o pior é se ligar que cometeu a gafe...
    Mas como eram diferentes as pessoas né ?
    Imagine se fosse hoje ? Você toda inocente e o cara ia te dizer um monte de palavrões...
    Ainda bem que conseguiu se livrar desse vício !! Mas antigamente (eu a idosa falando, rsrsrs ) era tão glamourizado que quem não fumasse era um ET, rsrsrs

    Como a bebida hoje...

    Como sempre adoro seus posts, e desde a primeira vez adorei, rsrs

    Bjus 1000 sua linda e obrigada por tanta gentileza nos comentários em meus posts, fico "se sentindo" rsrsr

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    1. Ora, Peposita,
      nem tanto, nem tanto... rsssssssssssss
      Na hora que falei tive vontade de engolir a boca, mas já não dava!
      Quanto ao cigarro vc está quase certa: o glamour foi antes, tipo para as mulheres da década de 50. Quando comecei a fumar, início dos 70, era a época da liberdade feminina! A pílula, o sexo, a paz e o amor, inclusive a maconha - que sequer experimentei porque era frouxa de doer! E porque o grupinho de amigos que eu tinha no bairro, eram tão cagões e caretas como eu! Daí que nem passei perto! Mas o cigarro... deu no que deu!
      Bjsssssssssss, quérida, e na Vi tb!

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  6. rs...r.s.....não sei se é mais trágico do que cômico ou mais cômico do que trágico, mas vc é ótima em contação de "causoS".

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    1. Penso que são as duas coisas, né, Maristela?
      Ih, mas tenho uma boa dezena de situações desta natureza! Penso que a grande sacada é torcer pro lado do cômico, afinal, se podemos optar entre rir e chorar, vamos rir (nem que seja até chorar) muito!
      Bjssssssssssssss, quérida!

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  7. Vim aqui agradecer e fiquei encantada com os causo, a leveza da escrita e a simplicidade clara, vou passar sempre para uma boa leitura.
    Cut beijos e é um prazer conhece-la

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    1. Oi, Marta, obrigada pela visita e pelos elogios!
      Venha sempre, eu vou adorar contar meus causos procê!
      Ah, e não esqueci: quero ver a conclusão daquelas idéias (em especial a horta, fiquei encantada!)
      Bjsssssssssssssss, quérida, prazer conhecê-la tb!

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  8. Oi Cléa, é a Vi, levei até um susto com a historia dos bichos que falavam, eu pensava que você tinha só 25 anos, então tenho a revelação que minha amiga é do tempo da arca de Noé..kkk
    Brincadeiras a parte, a verdade é que todos nós já demos gafes, pagamos aquele mico, e depois ficamos parecendo avestruz, procurando um buraco urgente para enfiar a cabeça.
    Ainda bem que você conseguiu largar o cigarro.
    muitos beijos,Vi

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    1. E quem é que disse que não tenho 25? Claro que tenho! Duas vezes 25 mais quase 8 de quebra!!! rsssssssssssssssss
      Querida, ainda bem mesmo, porque se, além de tudo o que falam de mim (rsss), ainda dissessem "lá vai a viciada!", sei não, tinha surtado! rsssssssssss
      Bjssssssssssssssss, quérida, e na Pepa tb!

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Bjssssssssssssssssssssssss