Não tenho mais TPM (suponho, né? rsssssssssss), mas sinto desagrado, raiva e impaciência como sempre senti. É da minha natureza ruim.
A única diferença, agora, é que demonstro - através de palavras ou gestos - coisa que antes, há uns bons pares de anos, não fazia. Ficava quietinha e engolia o sapo. Talvez por isso alguém tenha dito que não me conhece mais, que eu mudei. Mudei sim, graças a Deus! Porque tudo o que arrumei com o meu silêncio, com o meu ficar quietinha e não demonstrar meus desagrados e feridas, foram uma esofagite, uma hérnia de hiato, uma diverticulose e uma alergia respiratória sem tamanho! Fazer o quê, agora? Tô pagando o preço de uma escolha passada.
Mas pode haver problema em falar o que sentimos: corremos o risco de falar demais, sermos mal interpretados (porque cada um tem a sua verdade, como já conversamos anteriormente) e, até com as nossas verdades, ferir a quem amamos! Daí termos que aprender, também, a calar! Uma bosta, né não?
E vamos vivendo sempre entre essas duas escolhas: falar ou calar. Colocar as duas coisas meio a meio é, talvez, o ideal, mas... como saber onde está o meio entre duas ações opostas? Como saber se já se falou o suficiente para, então, calar?
"Também sinto que o meu coração ficou mais resistente, Helena e isso, quando me permito pensar a respeito, me deixa triste: eu não era assim! Então começo a conversar com meus botões e me repito várias vezes que não é justo regredir por conta de algumas pessoas! Não posso permitir que isso me aconteça, a vida é movimento de evolução! E é assim que vivo a vida: refletindo sempre, não sendo hipócrita comigo (assumo minhas broncas, minhas raivas, minhas decepções, meus erros) e sendo melhor no que vai dando. Mas tb não me afobo: se der pra ser melhor, ótimo, se não der, me dou um colinho e me digo 'calma, Cléa, vc está em processo, você chega lá!', não é isso, querida?"
Dou-me colinho sim. Às vezes preciso e nem sempre quem está ao redor percebe. E não sou de pedir. Tenho essa enorme dificuldade! Quando era mais jovem, fazia que nem cachorro carente: abanava o rabinho, dava uns pulinhos, uns latidinhos, sempre que recebia um agrado. Já não sou tão cachorro assim. Então, como diz a minha amiga Ly Sabas, lambo as minhas feridas pacientemente! Depois das lambidas, me afago, procuro me entender - porque sei que sempre há um motivo por trás de uma atitude ou sentimento, até quando se diz "sei lá porque fiz isso, agi naturalmente!". Nada (penso eu, claro) é naturalmente.
Ah, mas estou fugindo da minha ausência de TPM!!! Rssssssssssssss
Na verdade, nem sei se tive TPM! Lembro-me de cólicas imensas, enjôos medonhos, dores insuportáveis nos seios e nas pernas... se eu ficava irritada nessas ocasiões, não era sem motivo, vamos combinar, né não? Comecei esse texto falando da dita cuja porque alguém muito querido me perguntou (ao me ver irritada com um acontecimento): "Cruzes, tá em TPM?" e tentei explicar que nunca fora cega, surda ou muda, eu sempre observava e pensava sobre as coisas que aconteciam ao meu redor, mas, em casa, especialmente em casa, quase não me expunha. No trabalho, não. Falava, questionava, indagava, reclamava. Lá, eu encontrava debatedores. Alguns até se opunham contra alguma posição ou fala minha, mas não me tiravam o direito de expressão. Já em casa, embora nos amássemos muito, havia um respeito forte que me impedia de falar muitas coisas que pensava. E que consegui soltar, aos poucos, muito tarde...
Daí que... procuro temperar, atualmente: nem me calo muito, nem falo demais. Mas erro, né? Às vezes falo o que devia guardar e guardo o que merecia falar. E essa história de coração resistente não me agrada. Acontece. Porrada enrijece. Deslealdade maltrata. Mas, nem todo mundo dá porrada, nem todo mundo é desleal, nem todos lhe traem. Em nome deles, desses que me amam (sim, eu sou amada!), tenho posto mais meu coração de molho: me dou colinho, me desculpo (me perdoar é mais difícil, chego lá!), bato longos papos comigo (quando dá, em voz alta) e sigo.
Afinal, como dizem, se estou viva, a missão continua!
Cléa Siqueira