quarta-feira, 16 de maio de 2012

Faltou... o marido!

    

       - Marido... onde é que você está?  
      Aprumei o ouvido. Fiz como cachorro, quando o dono fala, e levantei só uma orelha (pelo menos cachorro de desenho animado faz!). Fiz exatamente assim (claro que não levantei uma só orelha, né? Ora, só dei uma viradinha de cabeça! rsssssss)!. A pergunta, feita de forma extemamente carinhosa, chamou-me a atenção e quis ver quem a fazia. Por isto, mesmo curvada para pegar as caixas de leite, na parte de baixo da prateleira do supermercado, suspendi a cabeça e a virei de lado (deixando o ouvido direito mais à vontade para a escuta).
       - Marido, onde você está? Ahn? - ela pareceu não entender a resposta que ouvia ao celular.
       Levantei, ainda olhando para aquela mulher do lado oposto ao que eu estava naquele corredor (de caixas de leite de um lado e pãezinhos do outro). Não resisti: apoiei os antebraços na beirada do carrinho de compras e passei a prestar atenção na figura feminina que dava passos leves e tranqüilos, de um lado para o outro (mas num espaço curto), enquanto falava com "Marido" ao telefone.
       - Tô aqui no mercado comprando umas frutinhas e o pãozinho pra você... - ela devia estar respondendo a mesma coisa que perguntara (onde é que você está?) - ...marido, vem pra cá! Tô no supermercado,  aqui no shopping! Vem marido, vem me encontrar aqui... - dizia carinhosa e mansa.
        Não sei o que ele respondia, claro, mas o que me prendia naquela cena era a forma delicada e afetuosa que ela usava com seu companheiro. Claro que o marido dela é o seu grande companheiro! Ninguém trata quem não é companheiro, companhia, amigo, amor de todo dia, daquele jeito! E ninguém que é tratado daquele jeito deixa de ser agradável em resposta! É troca, penso eu, uma coisa puxa a outra, né não? Calma, povo! Calma que sei que ninguém é direitinho o tempo todo, eu, pelo menos não sou! Tenho dias ou horas ou minutos ou segundos, sei lá, de escorregar para dentro de mim. Não chego a ser grosseira nesses momentos, mas, com certeza, sou menos receptiva. Acontece.
        Ah, mas estava falando da mulher que comprava frutas e pãozinho para o marido e falava ao telefone com ele!  Essa doce criatura não era uma jovem com aparência de recém-casada apaixonada não, qual o quê! Era uma senhora! Aparentava uns cinqüenta anos (talvez um pouco menos, talvez um pouco mais, não sei), vestida com simplicidade (aqueles nossos modelinhos de ir ao supermercado ), cabelos amarrados numa espécie de rabo de cavalo (falo assim, espécie, porque alguns fios de cabelo já haviam se desprendido e esvoaçavam teimosos, em desalinho (aliás, este é um dos motivos, também, que me fazem usar os cabelos curtos: não tem como desalinhar! rsssssss). Depois da descrição que fiz dá para entender melhor a razão de eu ter me fixado nela, não? Isto mesmo: ela realmente demonstrava... amor! O sentimento mais abençoado, mais procurado, mais esperado por todos nós!
       Aguardei que desligasse o telefone e a abordei (claro que fazendo uma gracinha!):
       - Faltou dizer pro marido que ele vai ganhar, além da frutinha e do pãozinho, um pesinho para carregar! - E escancarei o sorriso!
       A doce criatura olhou-me mansamente e respondeu:
       - Não, que isso! Ele não pode, coitado! Meu marido já teve três enfartes! - E sorriu serena para mim.
    Consegui murmurar apenas um "Caramba!" e, graças a Deus, minha filha apareceu na ponta do corredor (ela havia ido comigo às compras) tirando-me da saia justa (eu e essa minha mania de puxar assunto fazendo piada! Ainda vou me dar mal! rssssssssssssss). Só que a mulher era, de fato, uma boa alma. Além do sorriso sereno, deu-me a sua atenção generosa numa conversa agradável e risonha e, de quebra, surgiu a sua filha: moça extremamente simpática e educada que nos acompanhou naqueles instantes de convivência amena . Lembrei-me de algo que li sobre os frutos demonstrarem as boas qualidades da árvore. Enfim, partilhei de paz e boa prosa. E foi tão bom que levou-me a confidenciar-lhes que tenho este blog e que o nosso encontro podia dar uma boa postagem!
       Daí que... ela e a filha devem estar lendo, junto com quem costuma vir até aqui, no meu cantinho, a descrição daquele delicioso episódio de ontem à tarde. Um encontro simples, bonito, harmonioso  e que foi muito bom de viver! Para ter sido melhor, só se lá estivesse ... o Marido! rsssssssssssssss


       Cléa Siqueira
      

22 comentários:

  1. Boa noite Cléa :)
    Fiquei imaginando a cena:vc aprumando os ouvidos pra ouvir a conversa!!rsrs
    É tão gostoso encontrar uma pessoa assim,de alma nobre.
    Ver alguém demonstrar amor,hoje em dia,é uma raridade.
    É por isso que eu adoro as coisas simples dessa vida.
    São através delas que usufruimos de bons e agradáveis momentos.
    Bjs!

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    1. Boa noite, Clau querida!
      É pra lá de gostoso encontrar uma pessoa assim, menina! Olha, me fez um bem tão grande!
      Sempre fico pensando nisso: não é possível que a maioria das pessoas sejam tão frias como as mídias querem que acreditemos! As notícias que ouvimos e vemos são sobre pessoas que não se importam mais com o próximo, não é?
      Então, quando acontece uma cena dessas na minha frente, ah, fico logo de orelha em pé feito cachorro! rsssssssssssssssss
      Bjssssssssssss, quérida!

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  2. Tadinho do marido...kkkk...sem nenhuma maldade, claro...deixa ele lá...tadinho...ele merece, claro!

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    1. Com certeza ele merece, Renata, se não merecesse, depois de tanto tempo de casamento, aquela mulher (já avó) não falaria com ele, e dele, com tanto carinho!
      E foi isto que me encantou naquela mulher que, para mim, provava a verdadeira vocação do ser humano: amar e ser amado!
      Bjsssssssssssss, quérida!

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  3. Quérida, se vc não houvesse conversado com a pessoa, juro que diria que estava falando de mim....ahahaha...e para ajudar, a gente fala mega alto no celular, todo mundo põe reparo...obrigado pela sempre companhia, e vc como minha mãe tem uma sacada para viver as boas experiencias da vida, que é um luco que só;....

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    1. Achou que era vc, né? rsssssssss Te peguei!!! rsssssss
      A sacada vem do tempo, menina, vc vai ver quando tiver vivido quase seis décadas! Aguarde! rsssssssssss
      Bjsssssssssssss, quérida!

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  4. Como é bom cruzarmos com pessoas assim "iluminadas". Parece que nos passa uma paz, tranquilidade, só coisa boa. Agora para relaxar: se fosse eu que estivesse falando no celular, vc não precisaria fazer "força" para escutar, eu falo muito alto (eu não acho, mas meus filhos tiram o maior "pêlo" de mim, dizem que eu não preciso de telefone, é só falar que a pessoa escuta....kkkk. suas histórias são a maior delícia.

    Bjs

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    1. Se é, Maristela, se é! Foi um encontro-beleza, digamos assim!
      Olha, vc é que me fez rir com essa sua história de não precisar de telefone! rsssssssssssss Mas eu penso que é coisa de mãe, sabe? A gente vai se acostumando a falar alto pra ser ouvida que passa a ser normal, a gente nem nota! E convenhamos que filho reclama sempre da gente, né não? rsssssssss E a gente sempre reclama deles! rssssssssssss Um a um!
      Bjsssssssssssss, quérida!

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  5. Cléa querida nem te conto o que aconteceu comigo amiga,nem te conto. Pra vc ter uma idéia só pra ecrever o que já escrevi demorou 5 minutos. Amiga linda esse relato, principalmente por vc ter encontrado uma pessoa assim, carinhosa e tão amorosa com o marido doente, coisa rara hoje em dia, mas precisamos tbém dar créditoa à ele que com certeza também é um bom marido e bom pai, porisso tanto carinho. Fiquei imaginando vc com a orelha levantada como os desenhos animados, me ri que só kkkk Bjos querida mais tarde te mando email

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    1. Ai, ai, ai, amiga, não me diga que o ombro piorou!!! Ai caramba!
      Também penso que ele deve ser um bom marido e um bom pai, não se trata com tanto carinho quem não presta, né não?
      Quer dizer que vc gostou de me imaginar feito um cachorrinho de orelha em pé prestando atenção na conversa? rsssssssssss O pior que foi assim mesmo! rssssssssssssssss Eu era o próprio cachorro e vira-latas! rssssssssssssss
      Bjssssssssssssssssss, quérida!

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  6. Queria ser assim, transformar minhas vivências numa história agradável como esta. Também sou observadora, fico de olho, mas não vejo nada intressante para contar, ou não vejo com olhos mais contemplativos.
    Ecomo você conduz a história, suas ilustrações do acontecido são impagáveis.
    Beijo!

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    1. Ô, Lucia querida, assim você me encabula!
      Honestamente, os elogios vindos de vc, que escreve tão bem, me envaidecem!
      Nossos estilos de escrever é que diferem, não o nosso olhar sobre o que vemos, já até falamos disso uma para a outra (de como pensamos parecido)! E vc, além da cena, vê os questionamentos que surgem por trás (ou na frente, não sei) dela, a cena.
      Então... surpresa! Nos completamos, menina!
      Bjsssssssssssssss, quérida e obrigada!

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  7. Olá Cléa, sou "a filha" da sua história .Realmente aquela tarde foi mesmo maravilhosas, rendeu foi muitos risos após nosso encontro. Achei muito legal a maneira como você descreveu o caso e me rendeu boas risadas enquanto eu lia. E quando eu li a história deles pelo telefone, para minha mãe Edmea e para meu pai Vani, eles também deram boas gargalhadas e ficaram honrados por ter um momento da vida deles retratada de uma maneira espetacular. Um super beijo para você e sua filha que também estava lá.

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    1. Oi, Daiana querida,
      Que bom que vc gostou da postagem! E melhor ainda: que gostou, assim como sua mãe, do nosso encontro tanto quanto eu! Maravilha!
      Também adorei que seus pais tenham gostado e se divertido com meu texto sobre nós. E quem se sente honrada sou eu por ter escrito sobre pessoas que fazem muita diferença (para melhor, claro!) no nosso mundo.
      Obrigada pelos elogios, obrigada por terem partilhado aqueles momentos comigo e com a minha filha, obrigada por ter tido a gentileza de comentar e se identificar aqui no blog. Aliás, apareceu como minha seguidora uma moça chamada Daiana Nascimento, é vc?
      Bjssssssssss, quérida, Deus a abençoa e aos seus pais (dá muitos beijinhos na sua mãe Edmea, aquele encanto de pessoa! Ah, ela disse que faz curso de mecânica e eu não consegui perguntar de quê, fiquei curiosa!)

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    2. oi Cléa, ontem eu estava respondendo sua pergunta a respeito do tal curso de mecânica da minha mãe, e quando eu fui enviar, aí qual não foi minha surpresa... minha internet caiu bem na hora de eu enviar, bom daí eu fiquei danada pois eu já havia escrito umas oito ou nove linhas,aí fiquei com preguiça de escrever tudo de novo né.Mais voltando o assunto sim, ela fez o curso de mecânica automotiva(de carro) na Faetec de marechal,acredito que já tenha uns dois anos.Bom eu acho que ela concluiu, mais não se interessou em seguir carreira não. E foi assim que minha mãe colocou a mão na graxa. Beijos mil pra vc.

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    3. Ah, Daiana, quando acontece essas coisas com o computador é um Ó!
      Essa Edmea não é moleza não, hem? rssssssssssssssss E vc também, pelo visto, né? Não desiste: dá um tempo para recarregar as baterias e... pimba na gorduchinha! rsssssssssssss
      Mas vc não respondeu se é vc a seguidora que aparece no blog. Só que vamos fazer o seguinte: em vez de ficarmos conversando por aqui, vc escreve para o meu e-mail(brechiquedadodoca@gmail.com), ok?
      Dê beijos na grande e preciosa Edmea e abraço no seu pai.
      Bjssssssssssssss, quérida!

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  8. Quanta fofura...
    Realmente ver esse carinho nos dias atuais é muito difícil, mas vê-lo é esperança de que dias melhores sempre virão.

    Essas pessoas mesmo sem perceber são uma tábua de salvação nesse mundo caótico que a gente enfrenta todos os dias.

    Adorei o post, como sempre !!!

    Bjus 1000 lindona

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    1. Isso, Pepa querida,
      Esperança em dias melhores, mais felizes, mais amenos, mais fraternos! Não podemos deixar de crer nisso e que isso é possível: aí está a prova! E nós tb somos a prova, nós que temos carinho e respeito pelos nossos semelhantes, que sofremos com as injustiças sofridas por muitos dos nossos próximos, que somos capazes de nos comover com demonstrações como a que contei pra vcs.
      Temos jeito, temos esperança!
      Bjsssssssssss, quérida e obrigada!

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  9. Oi Cléa!
    E que rendeu uma boa história, bem que rendeu!rss
    Não consegui me aprimorar na escrita a ponto de transformar um simples evento destes numa beleza de crônica. Vou tentar ver as coisas com este seu olhar (e ouvido) interessados.rsss
    Beijinhos e uma semana abençoada!

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    1. Oi, querida Valéria,
      Este seu comentáio é um grande elogio, obrigada!
      E não sou aprimorada na escrita, não, querida, é só meu jeito de contar os causos!
      Vc é ótima na poesia! Eu até já me aventurei (em algum lugar do passado), mas o resultado não foi bom não.
      Bjssssssssssss, quérida e, mais uma vez, obrigada pelos elogios!

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  10. Cléa ,
    momento pra lá de bom. Surpresas gostosas que a vida nos presenteia.Tua observação partiu da fala amorosa desta senhora e o amor puxa assunto, abre portas,alarga sorrisos. Que encanto este idílio acontecido, no qual vc foi testemunha.
    Às vezes uma piadinha inocente caí bem.Acho que vc ganhou uma nova amiga, heim?
    A crônica historiada ficou um deleite, amiga.
    Bjos e ótima semana.
    Calu

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    1. Obrigada, querida Calu, muito obrigada pelo comentário carinhoso e elogioso!
      Suas palavras acariciam meu coração! Tb acho que consegui uma nova amiga, aliás, duas novas amigas! E amigo é sempre bem chegado, né não?
      Bjssssssssssssssssss, quérida, ótima semana procê tb!

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Muito obrigada por participar do meu blog com o seu comentário.
Bjssssssssssssssssssssssss