Por que evitara olhar? Ou por que fizera de conta que olhava? Se, mais tarde, tivesse que descrever os detalhes daquela situação... simplesmente não conseguiria!
- Está vendo? O corte foi minúsculo!
Conseguia, apenas, supor a situação a que estivera presente somente de
corpo: o resto flutuara e não se dera conta! Estavam sentados, lado a lado, no
pequeno sofá da sala de onde se via a mãe dele na cozinha. Enquanto ele arriava o
lado esquerdo da bermuda, possivelmente levando junto parte da cueca, para
exibir o corte cirúrgico na virilha (troféu da hérnia ignal), olhava o seu
rosto fixamente à caça de suas reações. Ela apenas olhava, olhava sim, mas
apenas no gesto de dirigir os olhos para
uma cena. Nada via, apenas percebia o que se passava.
Não vira o corte, não vira a cor da cueca, não vira nada. Depois se
arrependera por não ter se dedicado à inspeção: poderia lembrar-se, por
exemplo, no futuro, do tom exato do moreno que coloria a pele do ventre
masculino... ou da sombra dos pelos que ali haviam descansado. Não conseguira,
esforçara-se apenas para não parecer assustada ou chocada com o gesto tão
simples do amigo. E a ocasião passara.
Lembrar-se disso deixava-a mais frustrada ainda consigo mesma, com sua
eterna falta de coragem: mais uma vez não ousara, não fora adiante, não
conseguira um movimento ((que até poderia definir aquela relação)! Quanto tempo?
Há quanto tempo a falsa intimidade? Seis anos? Por aí, qualquer coisa assim.
Desta vez também soara estranho: para que mostrar-lhe a cicatriz de um local
tão resguardado? Provocação? Para excitá-la? Podia ser.
Por que ele o fizera? E logo com a mãe dele ali, tão perto, percebendo tudo! Claro que ela notara,
estava praticamente ao lado, tão visível! Parecia até... é, bem que poderia, por que não?
E se ele quisesse mesmo isso? Que sua mãe pensasse que eram tão íntimos que o
gesto de se expor fosse habitual? Para a mãe, nada mais lógico que homem e
mulher que enrodilhavam-se na mesma cama dividissem coisas assim! Estava aí a
lógica, achara-a! Não estava fácil aceitá-la, deixá-la penetrar em cada célula
de sua razão, clarear-lhe assim o entendimento. Era até tortura! Seria tão
melhor, tão mais ameno deixar-se ir nas fantasias que guardava e que eram tão antagônicas à
resposta que acabara de encontrar! Teria que crer no que acabara de concluir: o
único objetivo daquele homem era fazer com que os outros, em especial sua
família, pensassem que tinham um caso! Era a prova de sua macheza sempre olhada
com descrença.
Aceitar essa lógica fazia com que todos os fatos vividos até aquele
momento se alinhavassem harmonicamente: o cavalheirismo, os galanteios, os
gestos superficiais de intimidade... ah! Só ela sabia que de íntimos nada
tinham. Talvez até nem fossem amigos! Amigo faz isso com amiga? Nunca o intuíra
verdadeiro. Sempre, sempre faltava aquele ar de naturalidade que envolve
pessoas que não se escondem. A sensação que tinha em cada encontro era a de que
ele, ao final, se divertia às suas custas, uma espécie de orgasmo sádico da
mente. No começo, perguntas tolas que provocavam-lhe todo um discurso
alimentado pela vaidade de dominar bem as palavras. Com o tempo passando,
começou a desconfiar que as perguntas tolas serviam apenas para fazê-la mais tola
do que as interrogações. Estaria ele querendo saber, de verdade, como se
sentia, o que pensava, como era? Ele a ouvia? Ela importava?
Mostrar a cicatriz na virilha com ares de sedução! Não era um pouco
demais? Mais uma provocação tola para fazê-la boboca? Difícil admitir que ficara embasbacada, olhos
bem arregalados, boca seca, coração disparado, mãos sem pouso. Mas, ficara.
Tinha respondido certinho ao que ele queria. De novo. Que merda!
Cléa Siqueira
hehe Amei ler e esse ultimo paragrafo está um arraso!
ResponderExcluirVir aqui é sempre uma surpresa agradável encontrar tão belos e inteligentes posts!
Grata
Beijo e feliz amanhecer!
Oi, querida Eliana!
ExcluirSumida, hem?
Que bom que vc gostou! Quem já viveu um bocadão tem sempre coisas meio surreais pra contar, né não?
Bjssssssssssssss, quérida e excelente semana!
Olá Cléa!!!
ResponderExcluirEntão a macheza dele era olhada com descrença?
É,não faz muito sentido mostrar uma cicatriz tão minúscula.
Que atitude fora de contexto né?!?
De repente estava faltando assunto pra ele.
De qualquer maneira,ela fez bem em não olhar direito,não dar muita atenção...
Ela nem deveria sentir-se tão frustada.
Bjs!
Minha querida Clauzinha,
ExcluirEra mesmo! A macheza do cara não era vista com firmeza, não! A despeito das atitudes sedutoras e da aparência bem máscula, pairava uma incerteza bem instigante quanto a isso.
Lamentavelmente, não se soube se era procedente ou não!
Bjssssssssssssss, quérida!
Não há idade marcada para estas situações.Não sei se é por causa da crença na sinceridade das pessoas que acabamos sendo cobaias de cenas assim.A inocência foi tal, que ao não dar importância ao exibicionismo, ele esvaiu-se.Mas, que a gente fica furiosa em participar involuntariamente dum teatrinho medíocre, ah, isso fica.
ResponderExcluirBjos minha querida,
Calu
Pois é, Calu: fiz parte de um teatrinho idiota! Ainda bem que já tem tempo e já não me deixa com aquela raivazinha de quem se sentiu babaca!
ExcluirCom esse cara vivi situações hilária e inacreditáveis! rsssssssssssssss
Desculpe a demora em respoder, mas tive que subir a serra em caráter de urgência!
Bjssssssssssssssssssssssssssssssss, quérida!
Minha querida,
ResponderExcluirDepois de uma semana de viagem para as Minas Gerais,estou de volta e encontro este teu instigante conto/vida real?Um belo estudo psicológico de um instante.
Bjssssss,
Leninha
Oi, querida Leninha,
ExcluirDesculpe-me, mas também estive ausente e só hoje estou respondendo!
Conto/vida real, acredite! rsssssssssssssssssss O moçoilo em questão seria um prato fundo transbordante para Freud! rsssssssssssssssssssss
Como disse, acima à Calu, rendeu-me episódios hilários e inacreditáveis! rssssssssssssssss
Bjssssssssssssssss, quérida!
rsrsr, e você ao final das contas nem descobriu se a macheza procedia ou não ?? rsrrs
ResponderExcluirEsses seus causos, são ótimos !!!
Linda semana prá ti querida !!
Minha Pepita querida, vamos rir que só rindo mesmo! rsssssssssssss NUNCA se descobriu se a macheza procedia ou não! rsssssss E isso pelos onze anos em que convivi, como amiga, claro, com o danado! Foi o melhor amigo e comparsa para algumas situações, mas saber se era macho, muito macho, que nada! Ao fim, isso nem mais importava! rssssssssssssss O bom era estar junto se divertindo!
ExcluirBjssssssssssssss, quérida!
Oi Cléa!
ResponderExcluirVocê transforma uma simples cena em um texto rico em considerações. É, na vida vez por outra nos deparammos com situações que nos deixam sem ação momentanea e eternamente insatisfeitas com nossa ingenuidade.rssss
beijinhos e uma linda semana!
OI, Valéria, isto é a mais pura verdade: na vida encontramos dessas situações estapafúrdias que nos paralisam (com z ou s?) e que nos deixam com raiva de nós pela idiotice que nos incorpora na ocasião!
ExcluirFoi exatamente assim que me senti! Naquela época (tem um bom tempo), de fato, fui muito ingênua! Mas não me arrependo: vivi!
Bjsssssssssssssssss, quérida!
Oi Cléa, é a Vi,que difícil essa questão, o ser humano tem razões que ele mesmo desconhece.
ResponderExcluirMas as vezes temos que agir loucamente e surpreender quem pensa estar com a faca e o queijo nas mãos, cabia bem falar ao exibicionista: pensei que você tinha coisas mais interessantes para me mostrar, isso já cansei de ver, e sair rapidinho de cena, deixando o bobo no sofá.
Muitos beijos,Vi
Vi, meu docinho!
ExcluirOlha, a sua sugestão foi magnífica! Eu devia conhecê-la desde aquela época para ter essa acessoria genial! rssssssssss Ele ia ficar muito no vácuo, menina! Ia ser demais!! Adorei a idéia, embora tenha passado tanto tempo, consigo imaginar a cara de tacho dele se eu tivesse tido essa reação! Maravilha!
Bjssssssssssssssssssssssss, quérida!
Ora ora, ou ele estava apaixonado por vc, e queria ver sua reação, e com certeza, deve ter adorado sua reação hehehe, ou era gay kkkkkkkkk e queria provar a mãe que já tinha algo mais intimo com vc, sabe-se lá o que passa na cabeça de um homem desesperado por amor...hehe
ResponderExcluirSaudades de vc amiga, nunca mais fui la na minha cx postal preciso verificar, mas são tantas e tantas coisas que tem acontecido, logo lhe conto.Bjocas
Minha querida amiga, que saudade!
ExcluirVai sim na caixa postal que tem coisa minha lá!
Sabe que, na verdade, podem ser as duas respostas? Vai saber, né não?
Essa história dá é pano pra manga!
Bjssssssssssssssssssss, quérida!
OI CLÉA!
ResponderExcluirAINDA NÃO SEI SE TUAS HISTÓRIAS SÃO VERDADEIRAS OU FRUTO DA TUA IMAGINAÇÃO
MAS, SEI QUE ME DIVIRTO MUITO,SEMPRE QUE VENHO AQUI.
SER USADA(O), NÃO É ALGO QUE SE GOSTE DE SABER QUE ESTEJA ACONTECENDO CONOSCO, ENTÃO APOIO A REVOLTA.
ABRÇS
zilanicelia.blogspot.com.br/
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Oi, minha querida Zi,
ExcluirNa verdade, as minhas histórias são verdadeiras. Vistas pelos meus olhos e contadas pelas minhas palavras, às vezes ouvidas pelos meus ouvidos e contadas por outros lábios.
A vida está cheia de histórias, basta ter olhos de ver e falta de pudores para contá-las, né não?
O importante é que elas divertem e sensibilizam. Então, está valendo a pena!
Bjssssssssssssssssss, quérida e obrigada por gostar de vir!
Cléa, estou me deliciando com seus textos, lindos de morrer!!!
ResponderExcluirSe perdeu a saia porque ganhou uns quilinhos, faça outra!!!! Fico observando como essas saias caem bem em todo tipo de corpo, pois se a barriguinha ficou saliente, coloque uma blusa mais comprida, coloque um salto e fique elegantérrima!!!!
Outro dia me perguntou se o jogo americano duplo foi invenção minha. Não, foi uma aluna que chegou aqui dizendo que viu um assim, assado na Étna, lindo, super fácil de fazer. Fiquei com aquilo na cabeça e fiz alguns. Na verdade, eu não cheguei a ver esses da loja, mas imagino que sejam assim. Bem, se não for, eu adoro esse tipo de jogo americano, pois faz o papel de uma toalha, mais fácil de lavar quando alguém derruba uma comida, pois não tem que lavar toda a toalha. Eu uso quase todos os dias.
Beijos
Helena, Helena, obrigada pelos elogios aos textos!
ExcluirQuanto a eu fazer a saia, juro que até me animei quando vi seu post, mas é que uso muito pouco saias (e estou no Rio, com calor, imaginea! rssssss). Daí que estou meio na dúvida, mas posso fazer para a filha mais velha que adora!
Agora que vou fazer os jogos americanos, nem duvide! Quer dizer, vou tentar fazê-los, né? Adorei as belezuras!
Bjssssssssssss, quérida!
Oi, lendo seu texto me fez pensar que estava lendo uma página daqueles romances que vendiam em bancas de jornal (nem sei se hoje ainda vendem), sabe aqueles que sempre tinham como título um nome de mulher? Tipo - Bianca, Sabrina etc, etc... rsrs gostei!
ResponderExcluirOi, querida Lourdes,
ExcluirTambém li muita Bianca, Sabrina, etc, etc, fez parte do meu "romanceiro" popular. O que me leva a acreditar que nem tudo era ficção naquelas histórias, porque a minha não é! rssssssssssssssss
Ah, tb não sei se ainda vendem!
Bjssssssssssssssss, quérida!
Ola amiga
ResponderExcluirAgradeço seus elogios e com certeza quando se está amando alguém viramos até " poetas " e é tão simples de se notar o amor, que mesmo sem nos revelar, ele se mostra em tudo que fazemos.
Uma ótima sexta-feira
Abraços,
RioSul